segunda-feira, 8 de setembro de 2008

“ O nosso amor vai ser assim, eu pra você e você pra mim”



Domingo, final de um dia lindo de sol, me recosto nos travesseiros para ler a revista Bons Fluídos, comprada no dia anterior, mas ainda abandonada.....

Vou direto para a página da coluna preferida: Conversa com com o sábio, de Rubem Alves. Coincidência a parte , a matéria fala sobre os mistérios do amor. Uma boa maneira de terminar o final de semana especialmente sereno e produtivo.

Como sempre, uma leitura prazeirosa e reflexiva.

(...)

“Quando te vi...” Eu nunca a havia visto. Não havia antecedentes que tivessem preparado aquele momento. Nada sabia sobre ela. Dela, naquele momento, a única coisa que eu tinha era a sua imagem: e eu a vi....Como eu nada sabia sobre ela, ela era destituída de substância. Dela, eu só tinha aquilo que meus olhos me ofereciam: uma imagem. Meus olhos pararam sobre o seu rosto e o tocaram imperceptivelmente com dedos de luz. Amei-a com os meus olhos.

(...)

Eu já havia visto muitas mulheres. Muitas delas mais bonitas. Mas a sua beleza nada fez com o meu corpo. Eu não a amei por ser mais bonita que as outras. Não é a beleza que produz o fascínio. Se o amor fosse produzido pela beleza eu teria me apaixonada por muitas mulheres.

Então, o que foi que me enfeitiçou? Não sei. Amei sem saber por quê. Faço a mesma pergunta que santo Agostinho fez: “O que é que amo quanto te amo ?” O que foi que amei quando a vi?

“Quando te vi amei-te já muito antes...” “Nasci para ti antes de haver o mundo. Não há cousa feliz ou hora alegre que eu tenha tido pela vida afora, que não fosse porque te previa...Tornei a achar-te quanto te encontrei...” (Fernando Pessoa)

A estranha forma sintática do verso nos leva para a região onde se encontram as fontes da paixão: um outro mundo, um tempo anterior ao agora.

(...)

A experiência do amor – quem sabe a palavra mais certa seria “paixão” - existe dentre dessa bolha mágica,fechada sobre si mesma, que subitamente nos extrai do presente. É uma emoção em estado bruto, irresistível que se apossa da alma, a domina e se basta. “ O nosso amor vai ser assim, eu pra você e você pra mim”. Quem escreveu esses versos sabia que a bolha da paixão é feita por dois olhares que se contemplam encantados e e fecham sobre si mesmos.

(...)

" Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer , o muro fatigado se cobre de signos. Nunca o tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais. Sua própria realidade compacta nos faz duvidar: são assim as coisas ou são de outro modo ? Não, isso que estamos vendo pela primeira vez, ja havíamos vistos antes. Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. E à surpresa segue-se a nostalgia. Parece que nos recordamos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e que ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados, suspensos no meio da tarde imóvel. Adivinhamos que somos de outro mundo". Octavio Paz

.... É lá que nasce o amor: nesse lugar onde nunca estivemos....(Rubem Alves)

Bons Fluídos, setembro de 2008

Quer ouvir a trilha sonora dessa história ?

Vai lá na quietinha que tem um barulinho lindo de morrer.



2 comentários:

Anônimo disse...

Voce deu o corpicho todo, é assim que a gente deixa esse mundo mais gostoso.
Eu Amo muito tudo isso.
Beijao

* + uma eu tbm adoro a revista

Anônimo disse...

Eu tinha achado super interessante quando você usou essa mesma imagem, pois tinha acabado de a achar e deixado no post que acabei de publicar (costumo escrever e deixar os post guardados para publicar mais tarde, quando na minha cabeça for uma boa hora) :). Essa imagem condensa bem várias facetas deste sentimento: amor.